Os colecionadores organizam seus objetos e experiências deixando um legado a partir das curiosidades e vivencias a partir de suas coleções
Embora não exista um consenso em relação à época exata do surgimento do colecionismo, o homem é um colecionador por natureza. O ato o acompanha desde a Pré-História. O homem pré-histórico motivado por razões que vão além da simples sobrevivência, acumulava repetidos artefatos, logicamente, não da forma tão organizada e, muitas vezes, catalogada, como hoje. A Escola Americana reconhece nesse hábito do homem pré-histórico uma forma primitiva de colecionismo. Já a Escola Francesa prefere citar como marco do colecionismo a Idade Média, época em que as coleções de armas e relíquias sagradas eram famosas.
Ao entrar no restaurante Mr. Beef, os clientes se deparam com a coleção de 2200 latas de cervejas e refrigerantes do empresário Manuel Balardin, 33 anos. A ideia iniciou quando tinha cinco anos e o pai, Hilário Balardin (in memoriam), viajava para o Rio de Janeiro transportando vinho das vinícolas florenses e trazia as latas de bebidas que consumia durante as viagens. “O pai me dizia para guardar as latas como recordação da cidade maravilhosa. Naquela época, em Flores da Cunha, eram poucas as marcas que circulavam. No início guardava em cima de uma janela basculante, na casa da família, no distrito de Otávio Rocha. Aquele colorido ficava muito bonito e, com o tempo, fui arrumando algumas prateleiras e fui pegando gosto por isso”, recorda Balardin.
Manuel sempre contou com a ajuda do irmão Davi Balardin. Quando eram realizadas as festas no Clube Esportivo Otávio Rocha os dois passavam nas lixeiras para recolher as latas e incrementar a coleção. Hoje, Davi é quem trabalha como caminhoneiro e continua ajudando a aumentar a coletânea.
O empresário sempre gostou das latas da Coca-Cola e tem um apreço pela lata de cerveja da marca Duff, presenteado pelo primo Gustavo Motterle. “Sou muito ciumento com toda a coleção. Esse espaço era uma garagem que utilizava apenas para a coleção, mas depois acabei investindo no restaurante e as latas acabaram virando decoração. Tem crianças que frequentam o local com os pais e querem tocar e pegar as latas. De verdade, eu quase enfarto olhando. Colecionar é a minha paixão e as pessoas não sabem dimensionar a importância de cada lata”, ressaltou ele.
Em sua coleção, o florense tem latas do Japão, Estados Unidos, Itália, Dinamarca, México e Brasil – incluindo uma lata da Bonanza, de Flores da Cunha. “Tenho latas do Ayrton Senna, das festas do passado, como por exemplo, da Festa Nacional da Uva de Caxias do Sul, entre outras”. Para Balardin, ser colecionador é ter o reconhecimento das pessoas. “Que o meu relato possa incentivar mais pessoas a colecionarem, independente dos objetos”, enfatiza.
O colecionador afirma que nunca pensou em vender a coleção e não pretende se desfazer da mesma. “Se tiver a bênção de ter filhos quero que eles valorizem, aprendam a gostar e quem sabe continuem com esta galeria. Hoje, não existe preço que compre este acervo de latas. O dinheiro um dia termina, mas essa é uma história de 28 anos” garante Manuel, que também guarda aproximadamente 550 cartões de telefone público.
Para aqueles que têm interesse em iniciar uma coleção, Balardin pede que tenham amor, dedicação e um espaço onde possam organizá-la, sejam latas, carinhos, buttons, moedas, raridades antigas, miniaturas, chapéus, bolas de gude, entre outros objetos. A última lata da coleção, a Pepsi Black da Champions League, foi adquirida na terça-feira, 15 de junho.
Já a coleção de selos do agricultor Sérgio Boniatti, 49 anos, iniciou em 1986, quando estudada no seminário. “As correspondências chegavam com selos coloridos que chamavam a atenção. Alguns colegas tinham coleção e também acabei me interessando pela atividade. Quando já tinha cerca de 300 selos, ganhei o primeiro álbum de presente dos meus pais”, lembra Boniatti.
Na hora de escolher os selos de sua preferência, Sérgio não demora e indica os três selos lançados para homenagear o piloto Ayrton Senna e o selo do milésimo gol marcado por Pelé. “Cada novo selo para a coleção é uma alegria a mais, mas claro que os dois maiores nomes do esporte brasileiro merecem destaque entre os 13 mil selos. Acredito que essa seria a escolha de todos os brasileiros que gostam de esporte”, resume ele.
Envolvido nas atividades da agricultura, Sérgio destaca que a compra e troca de selos depende muito da época do ano. “Costumo comprar pela internet, em sites especializados, além da troca por intercâmbio, com colecionadores da Espanha, Argentina, Chile, Itália e com brasileiros. Hoje, tenho selos de quase todos os países”, frisou.
Sérgio costuma perguntar aos amigos e conhecidos se eles têm correspondências antigas guardadas, tendo em vista que, nos dias de hoje, com celulares e redes sociais, o envio de cartas é cada vez menor. Para o paduense, junto com a coleção de selos, vieram as amizades com outros colecionadores, além do vasto conhecimento. “Cada selo tem o seu significado e a sua história. É a oportunidade de conhecer melhor a cultura de cada pais, conhecer novos espaços, monumentos, personalidades”, enfatiza Boniatti.
No início, o agricultor até pensou em vender a coleção, mas agora, com 13 mil selos, afirma que é impossível se desfazer dela. “São muitas histórias na busca por cada selo”. Prova dessa minha paixão se explica pelo fato de também colecionar moedas, cédulas, cerca de 500 canetas e aproximadamente 300 gibis.
Boniatti afirma que o trabalho de colecionar é fascinante e vale a pena toda a dedicação, mas desde que a pessoa faça isso por gosto. “Surgirão momentos de euforia, cansaço e desamino, mas quando o colecionador analisa o resultado, com certeza é recompensador”, finaliza Sérgio Boniatti.