Em Flores, cerca de 20 pessoas praticam o esporte e já conquistaram diversos títulos
Oque se sabe sobre a origem da luta de braço, desafio entre duas pessoas usando o braço, vem de muito antes de Cristo. Prova disto, é que civilizações como a egípcia, grega e romana esboçaram esta prática em pinturas, escrituras e estátuas.
A luta de braço tornou-se um esporte oficial internacionalmente em 1967 quando foi fundada a World Armwrestling Federation (W.A.F), que hoje tem cerca de 117 países filiados. No Brasil, o esporte tornou-se oficial em 1977, quando a modalidade foi incluída na Confederação Brasileira de Culturismo. Para o jardineiro João Maciel, 52 anos, o gosto pela luta de braço começou a partir do momento que assistiu um campeonato da modalidade, realizado em Farroupilha. “Fui para assistir e acabei participando da competição. Fui passando de fase até chegar na final, perdendo a decisão para o campeão gaúcho”, recorda. Depois da estreia, ele disputou o campeonato em Caxias do Sul obtendo a 3ª colocação. Foi no terceiro campeonato que conquistou seu primeiro título.
Para Maciel, as maiores dificuldades enfrentadas foram os poucos recursos e o apoio para participar das competições, além da falta de patrocínio. Para conquistar as vitórias, ele acredita que a determinação, garra e a coragem são fundamentais. “Não adianta chegar na mesa pensando em perder. É preciso pensar positivo”, ressalta o atleta, que pratica a modalidade há 30 anos.
Para o vigilante Diego Duarte Dias, 25 anos, as primeiras experiências com a luta de braço iniciaram na sala de aula. “Brincávamos para ver quem tinha mais força. Foi quando um colega pediu para entrar em contato com o João Maciel, porque dizia que eu tinha talento para esse esporte. Comecei em 2009, treinei um ano e depois criei coragem e comecei a participar de campeonatos. Desde então não parei mais”, resume Dias.
De acordo com ele, a maior dificuldade do início foi a questão da técnica. “Antes de aprender a única coisa que eu fazia era força bruta e depois sentia dor. Não tinha habilidade e não sabia como jogar, mas com o passar do tempo fui aprimorando”, destaca o bracista, que começou com 14 anos e compete há 11. Para ter sucesso na luta, Dias acredita que o atleta precisa estar bem emocionalmente. “Além do treino, a confiança e o apoio das pessoas mais próximas são importantes para obter a vitória”.
Assim como qualquer outro esporte, os atletas que praticam a luta de braço podem ter lesões, como luxações e até mesmo fraturas. Seguindo as técnicas da modalidade essas chances são mínimas. “Os juízes estão ali para orientar. Caso o atleta esteja numa posição de lesão, a luta é paralisada e reiniciada novamente. Até por isso os treinamentos são primordiais para aprender essas técnicas”, explica Maciel.
Treinamento constante
No Centro de Treinamentos da equipe Os Intocáveis, no bairro União, os treinos ocorrem nas segundas e quartas-feiras, com treinos focados nas técnicas e na aprendizagem. Já nas sextas-feiras, quando o número de atletas é maior, o foco é na parte de mesa com o objetivo de colocar em prática o que aprendeu. O espaço é aberto ao público, para quem quiser assistir ou tem vontade de iniciar na modalidade.
As categorias da luta de braço iniciam com a Júnior/Iniciante, dos 12 aos 18 anos. Depois a categoria Sênior, dos 18 aos 40 anos e a Másters, a partir dos 40 anos. Neste ano, o campeonato brasileiro terá também a Gran Masters. Dentro destas categorias as disputas são divididas por pesos. No feminino, dos 45 kg até 90 kg ou mais e, no masculino, dos 40 kg até 110 kg ou mais. As categorias também são divididas em braço direito e esquerdo.
Para o mecânico de manutenção Tobias Carraro Boeira, 28 anos, a paixão começou na escola enquanto brincava com os colegas. Passados alguns anos, ele conheceu o professor João Maciel e a estrutura do Centro de Treinamentos. Em 2007, teve a primeira experiência na modalidade e começou a treinar. “Já no primeiro campeonato, em Farroupilha, consegui o 1º lugar na categoria iniciante. Entre esse período acabei me afastando das competições para me dedicar ao estudo e ao trabalho, mas sempre acompanhei o esporte nacional e mundial”, ressalta Boeira.
A preparação física para os atletas se resume aos treinos de força e técnica. “Eu tenho o apoio do Crossfit de Flores da Cunha onde faço alguns treinos específicos para esse esporte. Além disso, faço um trabalho funcional que, junto com a técnica, ajuda bastante”, frisa o mecânico. “Para chegar as vitórias, o atleta precisa ter muita concentração, dedicação, foco, objetivo e, acima de tudo, ter um técnico bom, que auxilie na preparação e consiga deixar o seu aluno em condições de fazer o melhor”, destaca o competidor.
A temporada da luta de braço inicia no dia 14 de março, em Vacaria, quando acontece o campeonato estadual já com a seletiva para o campeonato brasileiro. Na ocasião, serão dez desafios de campeões onde cinco atletas de Flores estarão participando: João Maciel, Tobias Boeira, Paulo Espanhol, Jarbas Ferri e Claudio Bueno.
Competição mundial
Para o empresário Adelar da Silva, 43 anos, o primeiro contato com a luta de braço foi em 1996. Três anos depois, o atleta já participava do primeiro campeonato brasileiro da modalidade em Londrina, no Paraná, junto com dois amigos. Com o bom desempenho nas disputas dentro do Estado, ele iniciou a busca por objetivos maiores, como a seleção brasileira. Em 2000, o atleta disputou o primeiro mundial e na sequência foram mais seis.
Para Silva, o maior benefício do esporte é a saúde. Por ser um esporte de força, os atletas precisam se manter bem fisicamente e ter uma alimentação balanceada. “Esse é um bem que eu vou levar para toda a vida”, explica o bicampeão mundial da modalidade.
O empresário está há oito meses sem competir depois que rompeu o tendão do ombro direito e se recupera de uma cirurgia na mão esquerda devido aos exercícios repetitivos do trabalho e dos treinos. “Estou fazendo fisioterapia duas vezes por semana e dentro de pouco tempo pretendo voltar a competir”, resumiu. A boa notícia é que o filho, Weslley da Silva, 15 anos, estará competindo em Vacaria. “Embora esteja apenas começando, já competiu em Santa Maria, em Flores e Vacaria e, agora, é valendo pelo campeonato estadual”, resume Adelar.
Texto: Maicon Pan/Jornal O Florense
Fotos: Paulo Espanhol