A capoeira é uma expressão cultural brasileira que compreende diversos elementos
Acapoeira teve origem com os negros africanos que vieram para o Brasil e utilizavam frequentemente a vegetação rasteira para fugirem do encalço dos capitães. Esses foram os primeiros capoeiristas. Mais adiante, ainda no período colonial, os negros disfarçaram a capoeira introduzindo mímicas, danças e músicas. Tudo isso servia para resistir à repressão da polícia imperial e da Milícia Republicana. Hoje, ela é considerada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. De acordo com a contramestra e professora do Grupo de Capoeira Virtude, Suéllen Motterle Negri, 35 anos, as características do esporte são o acompanhamento de música, do berimbau (instrumento musical feito de madeira com arame, cabaça, dobrão, baqueta e caxixi), dos cantos e palmas e da formação em roda. “É a música que decide o ritmo e o estilo do jogo que é praticado no decorrer da roda de capoeira. Os capoeiristas se alinham na roda de capoeira batendo palmas no ritmo do berimbau enquanto cantam para os dois praticantes jogarem”, explica Suéllen.
O jogo pode terminar ao comando do capoeirista no berimbau (normalmente um capoeirista mais experiente), ou com o início de jogo entre uma nova dupla. A música é composta de instrumentos e canções em que o ritmo varia de acordo com o ‘toque de capoeira’, que varia de lento (Angola) ao bastante acelerado.
De acordo com a professora, a capoeira é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e intricados, utilizando-se principalmente de movimentos feitos junto ao chão ou de cabeça para baixo. Os golpes mais comuns são os chutes, as rasteiras, as cabeçadas, as joelhadas, as cotoveladas e as acrobacias em solo ou aéreas. A capoeira é uma luta de defesa e ataque em que os oponentes utilizam, sobretudo, os pés e a cabeça. “A ginga é o movimento básico da capoeira. Ela consiste num movimento repetitivo de colocar a mão direita para frente e a perna direita para trás e, em seguida, fazer o mesmo com o lado esquerdo do corpo, sincronizando o movimento com o ritmo do berimbau, fazendo com que o capoeirista esteja sempre em movimento durante o jogo. Além da ginga, temos os aús (estrelinhas), bananeiras, meia lua de fora, rabo de arraia, meia lua de compasso, martelo, entre outros”, diz.
Os estilos de capoeira
A capoeira tem basicamente dois tipos: Angola (estilo original praticado pelos escravos, caracterizada por ser mais lenta), na qual o componente básico é a malícia. Essa ‘malandragem’ consiste em simular movimentos que sirvam de engodo ao oponente em combate. Por outro lado, a capoeira regional é um estilo contemporâneo que possui atributos de outras artes-marciais em sua prática.
A professora Suéllen lembra que desde cedo sempre gostou de esportes de acrobacias. Aos oito anos foi apresentada à capoeira pelo Mestre Aranha e começou a treinar. “Ao longo dos anos tive a oportunidade de acompanhar meu Mestre nas escolas e comecei a dar aula para as crianças. Desde então, o amor pela capoeira e pelas crianças só aumentou. Toda vez que eu participo de uma roda de capoeira e o berimbau começa a tocar, o coração dispara”, destaca ela, que pontua que “capoeirista não é aquele que sabe movimentar o corpo e sim aquele que se deixa movimentar pela alma”.
O grupo Capoeira Virtude atende nas escolas particulares, nas escolas de educação infantil, nas escolas municipais, na Mahaila Estúdio de Dança e no Clube Cruzeiro, em São Gotardo. Hoje, o grupo é formado pelo Mestre Aranha (Roberto Zuanazzi), Mestre Pitanga (Andrei Boz), Contramestra Caçula (Suéllen Motterle Negri) e o professor Jhony (Jones Corso). Na capoeira, existe uma hierarquia onde os professores mais graduados (conforme a cor da corda) são os mais respeitados.
Um esporte para crianças
O aluno Lorenzo Dalsoglio, 6 anos, procurou a capoeira por gostar dos movimentos que compõem a modalidade. “Gosto de fazer estrelinha e para mim é uma brincadeira. Adoro ver o berimbau tocar e o som dele, eu me sinto feliz. É muito bom fazer capoeira com os amigos”, frisa ele. Para o irmão Vitchenzo Dalsoglio, 8 anos, a capoeira ajuda nos movimentos do corpo. “Sempre quando tem atividades de capoeira eu fico mais alegre e disposto”, resume Vitchenzo, que participa das aulas desde 2016.
De acordo com Suéllen, as crianças podem iniciar as aulas de capoeira aos três anos. A capoeira traz inúmeros benefícios, como a disciplina, o respeito, a convivência em grupo, além da coordenação motora, flexibilidade, velocidade, força e condicionamento físico. Além do corpo, a capoeira ajuda as crianças a exercitarem a mente, estimulando a percepção, habilidades e capacidades de interpretação. “Através das brincadeiras, a capoeira favorece a coordenação motora, o campo visual, a criatividade, autoestima, automatização dos movimentos, além de educar as crianças na administração do tempo, e espaço dentro de um determinado movimento”, enumera a contramestra.
Atualmente, entre Flores da Cunha, Caxias do Sul e Nova Pádua são cerca de 150 alunos, entre três e doze anos que praticam o esporte.
Por: Maicon Pan / Jornal O Florense